Eles não são místicos, mas pertencem a
uma corrente de pensamento que, para os leigos, parece uma seita
esotérica. Dizem-se capazes de ler o futuro em gráficos, onde
enxergam figuras como a de um Buda meditando ou um homem enforcado.
Parte importante de suas teorias é elaborada a partir da Seqüência
de Fibonacci, imortalizada no best seller 'O Código da Vinci'. Os
personagens em questão são analistas de mercado, trabalham em
bancos, corretoras ou simplesmente 'na internet' e dedicam-se a
recomendar compras e vendas de ações ou investir eles mesmos seu
próprio patrimônio. Chamam-se analistas gráficos, técnicos ou
homebrokers e, na turbulência que sacudiu os mercados nos últimos
dois meses, provocaram seus colegas ortodoxos, gabando-se de ter
antecipado a virada do mercado, a partir de 9 de maio.
A Revelação
O ponto de partida para o desenvolvimento desta trama está em um
mercado de arroz na cidade de Sakata, no Japão do século 18. Foi ali
que um negociante conhecido como Homma criou os fundamentos da
análise gráfica. Fez isso desenhando durante anos os preços de
abertura e fechamento do mercado até detectar padrões de
comportamento cíclicos que lhe permitiam antecipar movimentos. Um
dos gráficos assim criado lembrava o formato de um Buda meditando.
Rebatizado de “figura ombro-cabeça-ombro” ao ser adaptado à teoria
ocidental, tornou-se um clássico da análise técnica, muito usado até
hoje.
A Teoria de Dow
Mais de um século depois, em Nova York, Charles H. Dow, fundador da
agência de notícias Dow Jones, formulou a primeira teoria ocidental
para o estudo do movimento dos preços por meio de gráficos, que
norteia a análise técnica até os dias de hoje. Mas os padrões
encontrados em Sakata, reunidos na chamada “Teoria de Candlestick
(castiçal, já que os gráficos de Homma eram em forma de vela)” ainda
são muito usados atualmente.
As Ondas de Elliot
Há uma série de vertentes alternativas da análise gráfica, como a
“Teoria das Ondas de Elliot”, de 1939, que defende que o mercado de
ações segue um padrão de cinco ondas de subida e três ondas de
descida para completar um ciclo. Cada grafista tem suas preferências
e vários deles usam um pouco de cada uma. “O mais importante é que a
análise gráfica está sempre refletindo a psicologia das massas,
oscilando entre otimismo e pessimismo, em ciclos que tendem a se
repetir”.
Seqüência de Fibonacci
Dentro de toda essa discussão sobre ciclos é que entra a Seqüência
de Fibonacci – que se forma somando um número ao anterior
infinitamente, como em “1,1,2,3,5,8,13”. Criado pelo matemático
italiano Leonardo de Pisa (Fibonacci é uma corruptela de Filho de
Bonaccio), no século 12, este padrão é encontrado em constelações,
nos ciclos das marés, nos cartões de crédito, na Acrópoles, no
padrão de crescimento das folhas, nas galáxias, na espiral do DNA,
na música de Bach e Mozart e até nas proporções do corpo humano. Da
Vinci a chamava de Divina Proporção e a usou em muitos de seus
trabalhos. “Como a natureza, o mercado também segue o padrão”. “Após
configurar um gráfico, apontando alta ou baixa da bolsa, podemos
projetar para onde o mercado vai usando Fibonacci”.
Profecia realizada
Mesmo os mais céticos surpreendem-se com a capacidade da análise
gráfica em antecipar o movimento dos mercados. “Antes do atentado de
11 de setembro, tínhamos gráficos totalmente configurados para
quedas, com grandes figuras apontando nessa direção”. Pode ser
coincidência. E há até quem diga que 'insiders' da Al Qaeda se
posicionaram no mercado antecipando a grande baixa. “O importante é
que estava tudo estampado nos gráficos, e a queda realmente veio”,
pontifica um analista.
Não pergunte "por que?"
A bola de cristal dos grafistas teria funcionado, também, na
reversão de expectativas na bolsa no último mês de maio. O mercado
subia de vento em popa, até que uma súbita reviravolta mudou a
direção das cotações das ações, que despencaram. “Isso também foi
antecipado por uma figura de queda, a chamada ombro-cabeça-ombro”. O
analista gráfico não está interessado nas razões do mercado, mas sim
no seu modus operandi. Em outras palavras, se quiser decifrar este
código, não pergunte por que os preços sobem e descem, mas como e
quando isso acontece.
A Simbologia
dos Gráficos
Analistas enxergam em séries estatísticas figuras que
prenunciam viradas nas bolsas
O Castiçal
Padrões de comportamento dos mercados, representados
por gráficos em forma de velas,
deram origem à
“Teoria de Candlestick (castiçal)”
|
Premonição
Antes dos ataques de 11 de setembro 2001, gráficos
previam uma forte queda das
bolsas. Coincidência ou
não, ela veio logo após o atentado
|
Origem Asiática
Num mercado japonês do século 18, um comerciante
criou as bases da análise técnica,
com um gráfico em
forma de um Buda meditando |
|
|
|